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Relatório sobre abusos sexuais na igreja católica portuguesa  – Décadas de 1970 e 1980 foram as mais violentas para os alvos dos pedófilos no clero português

O escândalo de pedofilia, ou abusos sexuais praticados por elementos do clero católico português nas últimas décadas, foi-se adensando na última década e, apesar da procura persistente dos lideres católicos de minimizar este problema, a instituição religiosa viu-se num beco sem saída e está agora a abordar o assunto de frente ao nomear uma Comissão independente para analisar a dimensão desta realidade.

 No relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que hoje foi divulgado na capital portuguesa, Lisboa, estão plasmados os resultados da auscultação a 512 testemunhas desde o início dos trabalhos, em Janeiro de 2022.

O período histórico dos acontecimento não teve limite e, a partir dos testemunhos validados, entre homens (52%) e mulheres, hoje com uma idade média de 52 anos, ficou em evidência a existência de pelo menos 4.815 vítimas, sendo de destacar que no momento dos ataques tinham, por norma, idades até aos 12 anos.

O coordenador desta Comissão, Pedro Strecht, nas declarações que fez na apresentação do documento, sublinhou ser entendimento do grupo de trabalho que nada deverá ficar como estava no que diz respeito a este fenómeno dos abusos sexuais sobre crianças no interior da igreja católica e das suas instituições.

Os locais de maior destaque enquanto cenário da prática destes crimes são seminários, colégios internos ou, entre outros, a casa dos padres nas freguesias…

Este escândalo, que há anos abala a igreja católica portuguesa, sendo um problema também premente em países como a França, EUA, Irlanda, Espanha, Itália…, segundo alguns analistas, poderá ser uma oportunidade para a igreja se desvincular da imagem negativa que está a ganhar com a divulgação destes crimes, mas, para isso, como o próprio coordenador da Comissão apontou, será necessário tomar medidas efectivas nesse sentido.

Isto, porque os sucessivos pedidos de desculpa, inclusive do Papa Francisco, sem uma efectiva responsabilização dos abusadores que ainda estão vivos – a maior parte dos casos registados remontam às décadas de 1970 e 1980 -, dificilmente poderão reconciliar os fieis com a instituição, sobretudo aqueles que lidaram de perto com estes casos de pedofilia e abusos sexuais.

Recorde-se que há alguns meses, o próprio Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, católico assumido e praticante, veio a público defender que 400 casos – era o número em evidência na altura – não era muito expressivo, relevando a gravidade da situação, embora, mais tarde, tenha mostrado arrependimento por essas declarações infelizes.

A maior parte dos abusadores, os que ainda estão vivos, não deverão ser julgados ou punidos porque os crimes que praticaram já prescreveram à luz da lei portuguesa, tendo, no entanto, 25 casos seguidos da Comissão para o Ministério Público.

Este estudo em Portugal confronta, no entanto, com o caso francês, onde foram identificados centenas de milhares de crimes, mais de 300 mil, o que gera alguma dúvida sobre a profundida da análise ao caso português.

Sobre o fenómeno da pedofilia, a igreja católica angolana, em 2021, referia-se a este como não sendo algo intrínseco à igreja, porque há pedófilos em todo o universo social, mas o porta voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Belmiro Chissengueti, dizia, à época, que a pedofilia não é parte da identidade católica e que há pedófilos em todas as profissões.

E sublinhava Chissengueti, em conferência de imprensa, que a igreja católica era a única que tinha avançado para enfrentar este problema, que entristece a todos mas que urge combater, como o está a fazer a igreja católica, de forma a libertar a instituição desse mal, dessa vergonha.

NJ

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