O Presidente dos Estados Unidos da América surpreendeu o mundo ao aterrar em Varsóvia, capital da Polónia, esta segunda-feira, 20, como estava previsto, mas seguindo de imediato, de comboio, para a capital ucraniana, onde encontrou o seu amigo Volodymyr Zelensky, a quem reafirmou tudo o que ele já sabia: os EUA vão dar à Ucrânia mais armas num fluxo contínuo até derrotarem os russos. A surpresa não foi o discurso, foi a deslocação a Kiev. Em Moscovo, diz-se que Biden está em campanha eleitoral.
Os analistas que ouviram as palavras do Presidente dos EUA, muitos deles incrédulos, outros nem por isso, porque em alguns meios esta ida de Joe Biden à capital ucraniana já estava no quadro das possibilidades, mesmo que nas mais remotas por causa do risco efectivo que correu, não estranharam a repetição das palavras de incentivo à continuação da guerra até que o Kremlin esteja de joelhos, mas já admitem que estas palavras, com uma retórica mais abrasiva, incluindo a ideia de que o Presidente Vladimir Putin não percebeu o erro que estava a cometer quando mandou as suas forças atravessar a fronteiras ucraniana, a 24 de Fevereiro de 2022, e que, com o apoio ilimitado do ocidente, a invasão russa está condenada ao fracasso, pode alterar o conteúdo do discurso que o chefe do Kremlin anunciou para esta terça-feira, 21, no qual se espera um balanço de um ano de guerra e as novas perspectivas de Moscovo para o evoluir do conflito.
Este encontro entre Biden e Zelensky teve lugar numa das mais importantes catedrais da cidade, a Catedral de Mikhailovsky, contando com uma forte presença militar para garantir a sua segurança.
Ao chegar a Kiev, Biden não perdeu tempo e anunciou novas remessas de armamento, sendo os radares sofisticados, a única semi-novidade, para a Ucrânia, embora não tenha feito o que seria de esperar nestas circunstâncias, onde repetiu o que já se sabia, faltando dizer que mais armas incluirão aviões de guerra e novos misseis com maior alcance.
Isto, porque o que os ucranianos estão à espera é de misseis de longo alcance (que estão em stand by), que os carros de combate pesados M1 Abrams cheguem sem demora e que, o mais importante, os aviões de guerra F-16, que muitos analistas dizem que podem levar esta guerra entre a Rússia e, como o Kremlin tem repetido, a aliança da Ucrânia com todos os membros da NATO, para um patamar mais relevante e, embora a hipótese seja ínfima, abrindo caminho a um conflito nuclear de escala aniquiladora da Humanidade como se conhece.
Alias, alguns analistas admitem mesmo que o discurso de Vladimir Putin de terça-feira poderá ter como ponto fulcral um aviso ao ocidente/NATO de que o envio de aviões de guerra para as forças ucranianas fará com que as bases de retaguarda a partir das quais vão operar, quase certo nos países limítrofes, como Polónia e Roménia, passam a ser alvos legítimos das forças russas, o que colocará, se tal vier a acontecer, este conflito no leste europeu na rota do Armagedão, porque a NATO teria de activar o Art. 5º, aquele que obriga todos os membros a apoiar o aliado alvo da agressão.
Isto, porque os analistas militares sem excepção entendem que não existem condições de segurança para que os caros e sofisticados aviões de guerra ocidentais posssam operar nos aerodromos ucranianos, todos eles debaixo de mira dos misseis e drones russos, sendo, por isso, incontornável o recurso às bases da NATO na Polónia e na Roménia, os mais próximos da frente de batalha.
O “presente” de Biden, mais armas e a repetição de que os EUA vão manter o fluxo de armamento contínuo e sem limites para Kiev, surge no início da semana em que se comemora o 1º aniversário da guerra, na próxima sexta-feira, 24, foi entregue ao som das sirenes de aviso de ataque iminente de misseis russos à capital ucraniana, embora seja claro que se trata de mais um elemento desta coreografia de guerra e propaganda para as centenas de media que estavam com Biden em Kiev porque Putin jamais iria atacar a cidade com o Presidente dos EUA na condição de visitante e aliado do seu inimigo, o que seria o despoletar de uma catástrofe planetária caso BIden fosse atingido..
Neste discurso, Biden falou da Ucrânia como uma democracia e voltou a repetir a ideia de que na linha da frente da guerra com a Rússia está também a linha da frente da luta pela e democracia entre a estridência das autocracias e o perfume da liberdade, como se fosse possível esquecer que a Ucrânia era, antes de 24 de Fevereiro do ano passado, apontada em todos os media ocidentais como um dos países mais corruptos do mundo e onde dezenas de partidos foram extintos e centenas de opositores foram presos pelo regime de Zelensky, antes e depois do confronto militar com o vizinho do leste.
Joe Biden disse que “Putin pensava, quando lançou esta invasão, que a Ucrânia era fraca e o ocidente estava dividido, mas estava totalmente errado”, acrescentando que os EUA estão “total e sem dúvida comprometidos com a democracia ucraniana, a sua soberania e integridade territorial”, o que volta a colocar Washington e os seus aliados da NATO na linha da irreversível ajuda sem limites a Kiev para recuperar todo o território ocupado pelos russos, incluindo a Península da Crimeia, integrada na Federação Russa em 2014, e as quatro província anexadas em 2022, Kherson, Zaporijoia, Donetsk e Lugansk.
Ou seja, se este cenário for tido em linha de conta na totalidade do seu significado, o que Joe Biden foi a Kiev dizer é que os EUA e a NATO estão disponíveis para uma guerra nuclear com a Rússia, porque as autoridades russas, incluindo o Presidente Putin, já disseram que a saída destes quatro territórios é impensável e inegociável, e que, se a guerra evoluir para uma linha vermelha existencial para o todo russo, as armas nucleares vão sair dos arsenais…
Nas breves declarações de Zelensky, ficou claro a sua satisfação com esta visita, agradecendo a reafirmação do apoio ilimitado, defendendo que, com esta visita, a vitória ucraniana ficou muito mais próxima.
Certo e seguro é que estas palavras de Biden em Kiev vieram dar um novo interesse ao discurso de Putin de terça-feira.
Joe Biden também vai discursar em Varsóvia, capital da Polónia, nesse mesmo dia, terça-feira, 21.
Moscovo calling
Na resposta de Moscovo a esta visita relâmpago de Biden a Kiev, o Kremlin fechou-se em copas, mas uma analista do Instituto Mundial para a Economia e Relações Internacionais da Academia Russa de Ciência, Viktoria Zhuravleva, veio dizer o Presidente norte-americano procura com esta cartada ganhar aprovação pública para a corrida eleitoral de 2024, onde, provavelmente, voltará a defrontar o antigo Presidente Donald Trump.
Citada pelo Sputnik News, esta analista russa entende que Joe Biden atravessa um momento de escassa aprovação engtre os eleitores norte-americanos e viu nesta ida a KIevuma oportunidade para reduzir esse mau momento.
“Esta tentativa de influenciar o seu `rating” eleitoral nos EUA com um aumento no apoio à agenda de Kiev, visando a apresentação de resultados para o gigantesco investimento na Ucrânia , porque a oposição republicana vai claramente apostar na crítica a essa sua opção”, apontou Zhuravleva.
E acrescentou que nas eleições e campanha que se aproxima, Biden “precisa de justificar com resultados o imenso e ilimitado apoio que concedeu a Kiev, nomeadamente em armas e dinheiro” que têm agora de “garantir algum retorno”, ao mesmo tempo que vai agora “garantir que parece que exige às autoridades ucranianas justificação para esse gastos gigantescos”.
Recorde-se que desde o início da guerra entre equipamento enviado e as verbas atribuídas a Kiev, os EUA ultrapassaram os 50 mil milhões USD em 2022 e já este ano de 2023, cerca de um mês e meio, aproxima-se dos 4 mil milhões de dólares.
No todo ocidental, o volume de ajuda entre os membros da NATO – EUA e Europa ocidental – atingiu já os 115 mil milhões USD.
NJ