Janeiro 7, 2025

É Carnaval é folia e alegria. A maior manifestação cultural do país regressou às ruas, depois de dois anos de suspensão devido à pandemia da Covid-19. Na sequência da apresentação infantil, no sábado, e da Classe B, no domingo, a Nova Marginal de Luanda viu, segunda-feira, desfilar os grupos da Classe A, com o Presidente João Lourenço e a Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço, nas bancadas. O desfile começou por volta das 17h00 e terminou perto das 21h00. O União Twabixila, do município de Viana, foi o primeiro a exibir-se. No total, desfilaram 13 grupos, entre os quais o União Mundo da Ilha, vencedor da última edição, e com mais títulos conquistados (14). Nas outras províncias também dançou-se o carnaval, que continua hoje com o desfile de rua.

As danças, canções, vestimentas e os adornos que representam toda uma herança de feitos carnavalescos de gerações foram exibidos, na tarde de ontem, no acto central competitivo do Carnaval de Luanda, que regressou dois anos depois no formato “tradicional”, no asfalto da Marginal da Praia do Bispo, em Luanda.

A “Festa do Povo” foi prestigiada com a presença do Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, acompanhado pela Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço. Estiveram ainda presentes na tribuna VIP, o ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, o governador de Luanda, Manuel Homem, e outras entidades do aparelho do Estado.

Na edição de ontem foi homenageado o grupo da Classe B Adultos. O comandante Zito Francisco do grupo União Café de Angola, que tem como estilo de eleição a (varina), disse, ao Jornal de Angola, que embora estejam a desfilar na classe B dos adultos é com satisfação que receberam a homenagem feita pelo Ministério da Cultura e Turismo, em prol do contributo que tem dado para o crescimento e preservação da matriz cultural dos luandenses. O grupo apresentou-se no máximo da sua força. As cores dos trajes do grupo faziam lembrar “Os Laranjas Mecânicas” designação da Selecção Nacional de futebol dos Países Baixos (Holanda).

Em 25 minutos, aproximadamente, os grupos carnavalescos mostraram toda a sua ginga explorando cadências rítmicas das danças, canções e as vestimentas coloridas, acompanhadas  de enfeites, que representam toda uma riqueza cultural de grupos de várias origens que formam o povo angolano. O Entrudo (Carnaval), conhecido pela sua peculiaridade, marcou de maneira muito forte os presentes. Embora em Luanda o En-trudo  tenha uma história a preservar, foi possível observar nos grupos carnavalescos a constante necessidade de se fazer inovações, no sentido de tornar a maior manifestação cultural do país num produto mais atractivo na promoção do turismo e da indústria cultural.

Originalidade ao Carnaval

As canções dos grupos carnavalescos têm sido adaptadas para uma cadência rítmica mais acelerada e dinâmica, para torná-las mais dançantes, sendo que o difícil tem sido fazer o enquadramento temático dentro de uma sonoridade mais rápida, por causa da fonética da língua kimbundu que a maioria dos grupos utiliza para a composição dos temas, segundo estudiosos da dança e do canto, que, durante os dias que antecederam a festa fizeram questão de situar os amantes do Carnaval. Por essa e outras razões, muitos especialistas defendem o regresso das canções ao vivo durante os desfiles, por exigir maior criatividade dos intérpretes. No entanto, há toda uma importância da criação de condições técnicas no local da actividade para este exercício.  A dançar o Carnaval há 15 anos, o grupo União Twabixila foi o primeiro a desfilar, com muita ginga no pé mostraram que foram à Marginal para conquistar um lugar entre os três primeiros. O grupo apresentou o tema “A mulher não pode ter dois homens”, mostrando estar preocupado com as influências do modernismo que tem criado “choques culturais”

A financeira do grupo, Maria Luísa (tia Neide), disse que levaram à Marginal a dança (dizanda). Explicou que a intenção foi criar um tema que ajude a juventude a repudiar esse tipo de comportamento que fere os princípios morais e não ajuda a recuperar os costumes como forma de preservar a matriz cultural angolana.

Os prejuízos da Covid -19

O verde, amarelo, vermelho, branco e uma mistura de cores representam a marca do grupo União Sagrada Esperança. A fundadora do grupo, Luísa Paulo, é a rainha há 18 anos e fez parte da consagração do grupo em três edições, designadamente em 2011, 2014 e 2015.

Os prejuízos causados pela pandemia da Covid-19, foi o tema escolhido pelo grupo União Sagrada Esperança, razão pela qual decidiu ir dançar com alegria para dar às boas vindas ao regresso da maior manifestação cultural do país. A ala de xinguilamento, enquanto os integrantes aqueciam e aprimoravam os últimos retoques, fazia um ritual de protecção para afugentar os males. Levaram para a Marginal da Praia do Bispo mais de 400 foliões que se apresentaram no estilo semba, numa canção interpretada em kimbundo.

Gingas eternizadas

A constante aposta na inovação para atrair inúmeros fãs e continuar a conquistar títulos, ou no mínimo estar sempre entre os melhores grupos carnavalescos de Luanda, tem “obrigado” a direcção do grupo União Kiela a estar sempre atenta às mudanças e tendências sobre os desafios que se apresentam.

Apesar das transformações, o grupo procura manter a originalidade, na preservação da matriz cultural do Entrudo de Luanda. Visivelmente compenetrada a comandante Maravilha Dias dos Santos, mostrava alguma ansiedade, normal para um grupo que já conquistou cinco títulos. As cornetas e os batuques produziam o som característico do Kiela, que se apresentou no estilo semba. O amarelo, azul e branco são as cores predominantes do grupo que conquistou os títulos em (1985, 1986, 1989, 1990 e 2009). A “maravilha” do gingar da comandante Maravilha fez o público das bancadas levantar das cadeiras e acompanhar o ritmo compassado dos integrantes do Kiela, numa exibição que marcou uma singela homenagem “As Gingas do Maculusso”. A medida que o sol desaparecia, mas pessoas chegavam e preenchiam os lugares vazios nas bancadas.

Ajudar a manter a criatividade e peculiaridade no Carnaval de Luanda tem sido, até hoje, a principal aposta do grupo União Povo da Quiçama fundado a 15 de Janeiro de 2015. Apesar de ainda não ser um grupo com tradição, procura mostrar a riqueza cultural do povo da Quiçama, tendo  apresentado o tema “Kutunga Basílica du Sêxi”.

Na sequência, o União Njinga Mbandi como sempre não deixou mal visto o município de Viana. O “arrastador de multidões” com a sua dança (cabecinha) apresentou como proposta uma homenagem ao Primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto no tema: ” 78”.

Produção nacional

O União Mundo da Ilha, vencedor do Carnaval de Luanda, na classe A, da última edição competitiva, em 2020, com um total de 590 pontos, permanecendo na história com mais titulados, 14 troféu, propôs para esta edição o tema “Produção Nacional”. Revalidar o título em sua posse é o objectivo do grupo, que apresentou o tema “kubilulukisa”. O sector agrícola no país, tem assumido uma elevada importância no combate à pobreza, já que é gerador de emprego e simultaneamente representa um forte contributo para a diversificação da economia.

Para esta edição do Entrudo, o Mundo da Ilha, conseguiu levar à Marginal da Praia do Bispo, mais de dois mil e 500 foliões que ajudaram a promover as danças, canções, vestimentas e os adornos que representam toda uma herança de conquistas carnavalescas de gerações. Por isso, o grupo “dos pescadores” procurou estar atento às mudanças do quotidiano e exibiu um tema bastante ritmado e cadenciado como muito xinguilamento. As dinâmicas implementadas, não desrespeitaram as raízes culturais e a tradição dos ilhéus como forma de legado.

Ontem pela pista da Marginal da Praia do Bispo desfilaram, igualmente, os grupos União Etu Mudietu, 10 de Dezembro, União 54, Jovens da Cacimba, Amazonas do Prenda e União Giza, todos apresentaram a dança do estilo semba, que dominou o desfile central com 10 dos 13 grupos a exibirem este estilo de dança, contra uma dizanda, uma cabecinha e uma sambalage.

Kimpa Vita e a História de Angola

Detentor de uma legião incalculável de seguidores, o grupo carnavalesco União Recreativo Kilamba escolheu para esta edição um tema de elevada importância sobre figuras e locais históricos do país. O legado está a ser transmitido. Poly Rocha, publicamente, apresentou o seu substituto como forma de passagem de testemunho. O acto mereceu muitos aplausos. A escolha do tema passou pela “aprovação” do público.

Criatividade

Reconquistar o título este ano, em posse do “rival” União Mundo da Ilha é o objectivo, segundo o comandante Poly Rocha. Da galeria do grupo do Rangel constam já os títulos do Carnaval de Luanda, em 2018 e 2019, na classe A, e na classe B, um título conquistado em 2016.

Os “segredos e mistérios” que estavam à volta da preparação do grupo, tudo para não entregar o “ouro ao bandido”, foi desvendado. O URK trabalhou por forma a estar entre os três primeiros. Pelo resultado da exibição que roçou à perfeição, tudo indica que o grupo alcançará os seus objectivos. A força de vontade e determinação têm sido a palavra de ordem utilizada para descrever o estado de ânimo do grupo. A exibição do grupo foi um espectáculo à altura da dimensão da “Festa do Povo”.

Resistentes a preconceitos

O União Recreativo Kilamba (URK) festeja o seu oitavo aniversário no dia 27 de Julho, com conquista e inovações. Ao longo deste percurso, o grupo tem sido resistente a preconceitos e a própria aceitação como um projecto inovador. Para comandante do grupo, Poly Rocha, ontem, ao Jornal de Angola, acredita que “coisas novas levam o seu tempo para adquirirem a aceitação plena e com o URK não foi excepção”.

Poly Rocha referiu que sempre sofreram críticas pela forma como “se apresentam e criamos os enredos, visando sempre dar outro ‘ar fresco’ ao nosso Carnaval, mas sempre respeitando a matriz cultural”.

JA

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