Abril 19, 2024

Depois do Angosat-2, o satélite angolano de comunicações, cujos serviços já estão a ser comercializados e a contribuir para a melhoria do desempenho de vários sectores, como a saúde, através da telemedicina, Angola preparar-se para ter um segundo satélite, o ANGEO-1.

Diferente do Angosat-2, o ANGEO-1 é um satélite de observação da terra e a sua aplicação deve contribuir para o desenvolvimento das infra-estruturas, mapeamento de recursos naturais, vigilância marítima, incluindo pesca, agricultura, censo populacional, entre outros. A aplicação prática dos serviços vai desde soluções para estimar a produtividade agrícola à monitorização da desflorestação, obras de construção, detecção de derrames de petróleo ou de navios.

O primeiro passo para a construção do ANGEO-1 foi dado na sexta-feira, em Luanda, com a assinatura do contrato entre o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS) e a Airbus Defence and Space.

Com a construção e entrada em funcionamento do ANGEO-1, será possível fazer mais de mil imagens de alta resolução por dia com extrema capacidade de aquisição para uma cobertura local, nacional e regional, sendo altamente eficiente para as principais aplicações angolanas.

Tal como ocorreu com o Angosat-2, com a construção e colocação em orbita de um satélite traz imensos benefícios para o país. Além de ficar livre da dependência, o país pode e vender serviços e arrecadar divisas. Antes da entrada em funcionamento do Angosat-2, o país tinha gastos mensais entre 15 e 30 milhões de dólares por mês com o aluguer de largura de bandas a empresas de satélites estrangeiras.

Sob coordenação do ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Mário Oliveira, Angola tem desenvolvido diversas aplicações no domínio espacial utilizando imagens de satélite da Airbus Defence e Space France.

Em Dezembro do ano passado, foram lançadas as aplicações TECHGest, TECH-Agro e TECH-Ecologia, que fazem uso a recursos de satélites ópticos, radar e drones, capazes de disponibilizar ao mercado nacional as melhores e mais modernas soluções tecnológicas aliadas ao conhecimento científico e a experiência específica de parceiros.


Equipamento poderoso

O satélite de observação da Terra (EO) ou satélite de sensoriamento remoto da Terra é projectado e construído para observar e monitorar o tempo e o clima, as mudanças na vegetação da Terra e na superfície do mar e mapear o terreno usando tecnologia óptica ou baseada em radar. Antes servindo como uma ferramenta poderosa para pesquisa científica ou defesa, esses dados de observação estão a ser amplamente utilizados na agricultura de precisão, alerta de desastres naturais, energia e infra-estrutura, silvicultura e uso da terra, mapeamento e GIS (sistemas de informações geográficas), bem como sustentabilidade. Com base nos requisitos, alguns dados de satélite disponíveis comercialmente podem agora ser encomendados online como um produto personalizado para o consumidor.

Aproveitar as tecnologias

Enquadrado na Estratégia Espacial Nacional, o Governo angolano tomou a iniciativa de desenvolver o satélite de Observação da Terra, o ANGEO-1. O objectivo é continuar a aproveitar os benefícios das tecnologias espaciais para o desenvolvimento social e económico de Angola.

Satélite de última geração, o ANGEO-1 se baseia em mais de 30 anos de experiência da Airbus Defence and Space na construção de sistemas espaciais altamente confiáveis e de alto desempenho. Uma vez em operação, se tornará no satélite bastante avançado e capaz de posicionar Angola como uma potência líder no domínio espacial na região.

O ANGEO-1 está a ser desenhado para promover ainda mais o desenvolvimento do país em muitos sectores diferentes. Melhorar a vida dos cidadãos, construir capacidades, diversificar a economia e garantir benefícios a sectores muito diversificados são algumas das vantagens, além de contribuir para que Angola continue a desenvolver ferramentas de apoio à tomada de decisão baseadas no espaço, aumentando a eficiência em diversos sectores, nos domínios civil, público e de segurança.

Os serviços do ANGEO-1 podem, assim, ajudar numa melhor compreensão das origens e impactos das mudanças climáticas na economia, por exemplo, monitorizar a seca, aumento do nível dos mares, recursos hídricos e redução da perda de activos com acções mais eficazes de preparação para desastres e de resposta.


Formação de quadros

Como parte do contrato, pelo menos 15 especialistas angolanos vão ser treinados para operar o ANGEO-1 e, no domínio académico, dar-se-á também continuidade às formações nos graus de mestre-doutor e pós-doutor na área espacial. A acção dá continuidade ao programa de construção, reforço e alargamento das competências internas através de programas de transferência de conhecimento e treinamento direccionado. O objectivo é, também, inspirar e motivar as novas gerações para uma carreira na ciência, tecnologia e noutros campos relacionados ao espaço.

Em Toulouse, França, por exemplo, num dos institutos de referência mundial em tecnologias espacial, ISAE-SUPAERO, 11 engenheiros angolanos foram treinados a nível de mestrado em áreas como aplicações espaciais, utilizando imagens de satélite, engenharia de sistemas espaciais e gestão de projectos.

Liderança na região

Líder da equipa técnica que estuda a operacionalização de um Sistema de Partilha de Satélite para a África Austral, Angola responde pelos países da SADC junto da União Internacional das Telecomunicações em matéria Espacial. Para tanto, foi criado em Luanda um escritório de gestão de projectos, que pretende padronizar os processos relacionados ao Programa de Partilha de Satélite da SADC e facilitar a partilha de recursos, metodologias e ferramentas.

O foco do trabalho é definir e manter os padrões para gestão das empreitadas dentro do Programa de Partilha de Satélite da SADC, como identificação e análise de recursos orbitais, análise de interferência e assistência técnica na coordenação de frequências.

O escritório de gestão de projectos elaborará a documentação para orientar o plano de acção e desenvolver as métricas sobre a prática da gestão e execução. Portanto, irá fiscalizar e relatar, ao mais alto nível, o progresso das diferentes acções do projecto da SADC, de formas a promover a tomada de decisões estratégicas.

A equipa criada é composta por membros do Comité de Especialistas da SADC, entre directores e técnicos do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional, da INFRASAT e do INACOM. Desde 12 de Outubro de 2022, Angola opera o ANGOSAT-2 – um satélite de telecomunicações que fornece serviços de telefonia, internet, rádio e televisão. Boa parte da capacidade do satélite da banda C já está vendida para empresas nacionais e outros países.

Mercado lucrativo

A economia espacial africana emprega mais de 19 mil pessoas e foi avaliada, em 2021, em 19,49 mil milhões de dólares. Até 2026, deve crescer 16,16 por cento para 22,64 mil milhões. Contudo, apenas 30 por cento dos residentes na África Subsaariana estão conectados à Internet.

JA

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