Janeiro 2, 2025

Luanda – A preocupação dos líderes da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), um bloco económico composto por oito países da África Oriental, face a guerra no Sudão, e o conflito na República Democrática do Congo (RDC), que provocou a morte de mais 41 pessoas, marcaram a semana africana que hoje termina no campo político.

Na abertura da 14ª cimeira da IGAD, realizada esta semana em Djibuti, os líderes apelaram à coordenação entre os diferentes parceiros internacionais para garantir a resolução do conflito que assola o Sudão.

Além do anfitrião, o Presidente do Djibuti, Ismail Omer Guelleh, participaram na cimeira os homólogos do Quénia, William Ruto, da Somália, Hassan Sheik Mohamud, e do Sudão do Sul, Salva Kiir, bem como o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, os ministros dos Negócios Estrangeiros do Uganda, Jeje Odongo, e da Eritreia, Osman Saleh, e o vice-presidente do Conselho Soberano do Sudão, Malik Agar.

A IGAD faz parte, juntamente com a Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Africana (UA), do mecanismo tripartido que patrocinou o diálogo para uma transição política no Sudão, após o golpe de Outubro de 2021 e antes do início da actual crise.

O conflito já causou pelo menos 850 mortos e obrigou 1,6 milhões de pessoas a migrarem para zonas seguras (interna e externa).

Na semana de 11 a 17 deste mês, registou-se a morte de mais 41 pessoas na RDC, num ataque atribuído ao grupo rebelde Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codeco) a um campo de deslocados no nordeste do país.

Para além das mortes, o grupo feriu pessoas e incendiou casas, tendo utilizado armas brancas (catanas) e armas de fogo, segundo Richard Dheda Kondo, responsável local de Djugu, na província de Ituri, onde se situa o campo de deslocados de Lala.

Dada a gravidade da  situação, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou, em Haia, que vai proceder a um exame preliminar dos alegados crimes cometidos por “forças e grupos armados” na província de Kivu do Norte, no leste da RDC.

Por sua vez, o Governo da RDC pediu ao tribunal que abrisse um inquérito sobre os crimes que ocorrem na região “desde 01 de Janeiro de 2022 até à data”.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) registou desde o princípio do ano quase um milhão de deslocados internos na República Democrática do Congo, devido aos ataques levados a cabo por homens armados contra civis, que provocaram já a fuga de cerca de 7.800 pessoas.

As Nações Unidas elevaram recentemente para 6,1 milhões o número de deslocados internos em todo o país, o que implica um aumento de 17 por cento desde Outubro do ano passado.

Também em Moçambique, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que haja mais de um milhão de pessoas deslocadas das suas zonas de residência, devido a violência armada em Cabo Delgado, enquanto o ciclone Freddy, que se abateu sobre o país por duas vezes, entre Fevereiro e Março, obrigou 184 mil pessoas a abandonarem as suas localidades.

Já no sector económico, a semana que agora finda testemunhou  a assinatura de um acordo energético entre Moçambique e a África do sul, este último que tem atravessado nos últimos meses uma crise de energia eléctrica sem precedente.

Rubricado em Pretória (África do sul), o acordo prevê o fornecimento de mais 100 megawatts de energia à vizinha África do Sul, que agora passa ser o principal comprador da capacidade instalada da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (Centro de Moçambique), a maior albufeira produtora da África Austral, num contrato de compra de energia que vai até 2029.

Também mereceu destaque nesse país lusófono, o encerramento da última base de resistência do braço armado do principal partido da oposição, Renamo, em Vunduzi, no distrito da Gorongosa, província central de Sofala.

“Podemos afirmar com segurança que o encerramento desta base demonstra determinação inabalável do meu Governo e da Renamo em não mais voltar às hostilidades militares e consolidar a paz duradoura em Moçambique”, afirmou o presidente Filipe Nyusi.

A base encerra 30 anos e oito meses depois do fim da guerra civil moçambicana em  2019. O encerramento do mesmo representa o final do processo de desmobilização de 5.221 guerrilheiros que permaneciam nas bases em zonas remotas e que começaram a entregar as armas em 2019.

Na Etiópia, a semana foi marcada com denúncias feitas pelas autoridades de transição na região do Tigray, norte do país, relacionadas com desvios de alimentos efectuados pelos membros da administração central e regional e do exército da Eritreia.

De acordo com declarações à cadeia de televisão Tigray, citadas pela agência Europa Press, o coordenador do comité de investigação criado pelas autoridades de transição na região, Fiseha Kidane, disse que estão implicados coordenadores de vários acampamentos de deslocados e até trabalhadores de agências humanitárias.

Até agora, afirmou, foi possível confirmar o desvio de 4.300 toneladas de trigo, cerca de 130 mil litros de azeite de cozinha e 418.700 quilos de feijão por parte de entidades federais, com as forças da Eritreia a serem responsabilizadas pelo desvio de 2.900 toneladas de trigo, 432 mil litros de azeite e 144 mil quilos de feijão.

Fiseha pormenorizou que as autoridades regionais do Tigray são responsáveis pelo desvio de 1.500 toneladas de trigo, 42.759 litros de azeite e 14.240 quilos de feijão, uma operação que envolve um total de 186 suspeitos.

A Agência Internacional para o Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) anunciou na semana passada a suspensão da entrega de ajuda humanitária à Etiópia por suspeitas de desvio, seguindo a iniciativa do Programa Alimentar Mundial, que suspendeu “temporariamente” a entrega de ajuda.

As informações avançadas apontavam para que vários responsáveis etíopes em altos cargos estavam a desviar alimentos das populações e a entregá-los aos militares, para depois serem vendidos.

O conflito na região do Tigray começou em Novembro de 2020 depois de um ataque da Frente Popular para a Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês) contra a principal base do exército etíope, em Mekelle, que teve como consequência uma ofensiva ordenada pelo primeiro-ministro, Abiy Ahmed, no seguimento de meses de tensões políticas e administrativas.

ANGOP

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