Outubro 6, 2024

Laurinda Intumba, Madalena Cacuhu e Fátima Cacuhu são três mulheres que estão entre os 6.495 beneficiários das transferências sociais monetárias do projecto Kwenda, na província do Cuando Cubango, e que viram as suas vidas mudar para melhor, desde Outubro do ano passado.

As beneficiárias são naturais da comuna do Tchinguanja, município do Cuchi, e já começaram a colher resultados da aposta que fizeram no fomento da produção agrícola e criação de gado.

Constantino Ndala, de 62 anos, esposo das três mulheres, explicou que com os 51 mil kwanzas que cada uma recebeu, na primeira fase do Kwenda, conseguiram comprar três cabras, que já reproduziram. Agora tem seis animais.

Acrescentou que com outra parte do dinheiro compraram uma porca, que neste mo-mento está prenha, assim como pagaram algumas pessoas que desbravaram uma área de cerca de 50 hectares, que serviu para o cultivo de milho, feijão-frade, massango, massambala, ginguba e batata-doce, cuja colheita está em curso e estima-se uma safra de mais de cinco toneladas destes produtos.

Constantino Ndala tem 16 filhos e quatro mulheres, sendo que Ana Domingos André não beneficiou das transferências sociais monetárias devido a uma falha que se registou no cadastramento, mas revelou que o programa Kwenda veio no momento certo, porque tirou um grande peso na sua vida, por antes sustentar a família sem apoio de ninguém.

Segundo Constantino Ndala, hoje está aliviado, porque as suas três mulheres, com o dinheiro que receberam do Kwenda, estão  suprir muitas dificuldades que enfrentavam anteriormente para sustentar os 16 filhos.

Constantino Ndala confirmou que, desde o dia 28 de Junho, os beneficiários do Kwenda no Cuchi começaram a receber cada 66 mil kwanzas da nova prestação das transferências sociais monetárias, fruto da subida do preço da gasolina, que fez elevar o valor deste programa de 8.500 para 11 mil kwanzas mensalmente.

“Agradecemos pelo facto do Governo ajudar muitas famílias a mitigar a fome e a pobreza com este programa, sobretudo aqui no município do Cuchi, onde a maior parte dos beneficiários aposta na agricultura, criação de animais e produção de mel, por ser uma das localidades da província que oferece melhores condições para o fomento destas actividades”, disse.

“Tábua de salvação”

Luísa Intumba, de 60 anos, é viúva e também beneficiária do Kwenda, considera que o programa serve de “tábua de salvação”, por aparecer no momento mais sombrio da sua vida, após perder o marido há cerca de dois anos, sendo que era o único que trabalhava para sustentar a si e aos cinco filhos.

Luísa Intumba revelou que parte do dinheiro serviu para construir uma pequena casa de adobe, de quarto e sala, a outra quantia apostou na lavoura de milho e feijão-frade, uma condição que tem permitido sustentar os filhos.

A moradora da aldeia de Malengue, a cerca de 40 quilómetros da sede municipal do Cuchi, manifestou-se regozijada por saber que o Executivo aumentou o valor das transferências sociais monetárias e avançou que, desta vez, a principal prioridade será aumentar a área de cultivo e apostar na reprodução de animais, principalmente, em cabritos e galinhas.

Outro beneficiário, Lucas Tchamba, morador da aldeia Pedra Branca, disse que com o dinheiro recebido na primeira prestação comprou uma porca a 20 mil kwanzas e o restante dos valores apostou na venda de refrigerantes e whisky em pacote, mas, infelizmente, neste último negócio, cinco meses depois, foi à falência.

Sublinhou que graças à porca que comprou e que neste momento está de novo prenha, já conta com cinco animais e que até ao final do  ano o número pode ascender a dez ou mais porcos.

“Com os 66 mil kwanzas, que vou receber agora da nova prestação do Kwenda, tenho como prioridade aumentar este valor com a venda de pelo menos dois ou três porcos para comprar uma cabeça de gado bovino, com o objectivo de preparar a lavra para o cultivo de macunde e milho”, perspectivou.

Lucas Tchamba lamentou o facto de que muitas pessoas só agradecem ao Governo quando recebem os valores do Kwenda, mas depois de acabar, começam a falar mal, alegando que não está a fazer nada para apoiar a população.

Por vezes o que acontece, explicou, as pessoas dão destino ao dinheiro em coisas sem importância, em vez de investirem ou empreenderem, para que tenham sempre algo para o seu sustento e deixarem de depender da ajuda do Executivo.

Paulo Ndala, da aldeia de Malengue, considerou as transferências sociais monetárias como um programa que já deveria ser implementado há anos para resolver o grave problema da fome e da pobreza extrema nas localidades do interior da província do Cuando Cubango.

Referiu que em menos de um ano o município do Cuchi começou a beneficiar deste programa e ele, com o dinheiro do Kwenda, conseguiu comprar um cabrito e uma charrua de tracção animal. O mesmo acontece com muitas famílias que ampliaram os negócios ou áreas de cultivo, graças ao Kwenda.

Programa também ajuda  a honrar o alembamento

Durante a reportagem do Jornal de Angola, o jovem Francisco Cambinda, de 25 anos,  revelou que viu a sua vida mudar para melhor ao beneficiar do programa Kwenda, por na altura ter engravidado uma jovem e não ter condições para pagar o alembamento (casamento tradicional), para posteriormente levar a companheira para casa.

Sublinhou que assim que ouviu sobre o cadastramento do programa Kwenda, inscreveu-se e tão logo caiu a primeira prestação dos 51 mil kwanzas, o único pensamento foi comprar produtos para realizar o alembamento.

Francisco Cambinda afirmou que fez a melhor aposta, porque a sua mulher tem ajudado no cultivo da pequena lavra que possui, assim como confeccionar a sua alimentação e na realização de outras actividades domésticas.

Com a nova prestação de 66 mil kwanzas, Francisco Cambinda apontou que desta vez a prioridade recai para a compra de uma charrua de tracção animal para aumentar o cultivo de feijão-frade, milho, massambala, massango e mandioca, assim como a reprodução de galinhas.

Aumento do valor aguardado com ansiedade

O chefe de departamento provincial do Instituto de Desenvolvimento Local (IDL), Zeferino Cavalo, informou que o Executivo já cabimentou a nova prestação de 66 mil kwanzas aos 6.498 agregados familiares do município do Cuchi,  equivalente a seis meses.

Zeferino Cavalo assegurou que a implementação do Kwenda no município do Cuchi é bastante positiva, tendo em vista que a maior parte dos beneficiários, ao invés de comprarem produtos da cesta básica, prefere empreender em vários projectos agro-pecuários.

Enalteceu, por este facto, o esforço que estas famílias têm feito, porque constitui uma prova inequívoca de que o Executivo está a combater a fome e a pobreza no país.

“Apesar de existirem algumas famílias que compram produtos da cesta básica, e materiais como chapas de zinco, colchões, fogões, cadeiras, mesas e utensílios de cozinha, a maior parte das pessoas aposta na compra de charruas e sementes para a prática da agricultura, assim como de cabritos, porcos e galinhas, para a reprodução destes animais”, destacou.

Recordou que o Cuito Cuanavale é o primeiro município na província do Cuando Cubango a beneficiar desta segunda fase de expansão do Kwenda, cujas famílias passam a beneficiar das transferências sociais monetárias de um para dois anos.

Zeferino Cavalo lembrou ainda que na primeira fase da implementação do programa Kwenda, na província do Cuando Cubango, foram contemplados 18.663 agregados familiares, sendo 12.232 no Cuito Cuanavale e 6.498 no Cuchi.

Zeferino Cavalo fez saber que com esta nova cabimentação dos 66 mil kwanzas a cada beneficiário, o Cuchi cumpre com uma etapa de quatro recorrências, o equivalente a um ano, tendo em vista que na primeira fase receberam duas. Acrescentou que no Cuito Cuanavale só foram entregues até agora três recorrências, o que corresponde a nove meses.

Para o município do Cuchi, os beneficiários do Kwenda terão a oportunidade de receber as transferências sociais monetárias de quatro recorrências, ou seja, de um ano. Ao passo, que os do Cuito Cuanavale vão receber cinco recorrências, o equivalente a um ano e três meses.

No caso concreto do município do Cuito Cuanavale, disse que muitas famílias têm estado a investir com o dinheiro do Kwenda na compra de instrumentos para a pesca artesanal, tendo em vista que a localidade é potencialmente rica em recursos hídricos.

O chefe de departamento provincial do IDL anunciou ainda que nos próximos dias está também previsto o arranque das transferências sociais monetárias, pela primeira vez, a 4.434 famílias, no município do Rivungo.

“Com o aumento do valor da prestação mensal de 8.500 para 11 mil kwanzas, esperamos que as famílias beneficiárias ampliem a sua capacidade de resiliência do ponto de  vista das necessidades económicas e sociais que têm enfrentado”, disse.

    Expansão do Kwenda

Zeferino Cavalo anunciou que o programa Kwenda prevê abranger, nos próximos dias,  mais dois municípios da província do Cuando Cubango, nomeadamente, o Cuangar e Dirico, localidades que fazem fronteira com a República da Namíbia.

Lembrou que no Cuando Cubango estavam apenas contemplados os municípios do Cuito Cuanavale, Cuchi e Rivungo, mas aquando da visita do Presidente da República, João Lourenço, em 2022, houve uma solicitação feita pelo governador da província, José Martins, para a expansão do programa em mais localidades, com destaque para o Cuangar e Dirico, sendo que o pedido foi acolhido.

O dirigente avançou que nos municípios do Cuangar e Dirico as transferências sociais monetárias vão abranger cerca de sete mil agregados familiares, por serem localidades não muito populosas.

    Programa deve continuar

Para a directora municipal da Acção Social no Cuchi, Prudência Maria Feliciano, o programa Kwenda veio no momento certo e tem servido como um ponto de partida para que as famílias vulneráveis possam mitigar a fome e a pobreza.

Defendeu, por esta razão, a necessidade de o Executivo continuar com as transferências sociais monetárias a mais tempo, e não apenas em dois anos, tendo em vista que muitas famílias  na província do Cuando Cubango encontraram neste importante programa como a principal “tábua de salvação”.

Prudência Maria Feliciano justificou que esta pretensão visa ajudar também centenas de famílias vulneráveis no município do Cuchi e nas outras localidades que não foram contempladas até agora pelo programa Kwenda, porque no momento do cadastramento algumas pessoas se encontravam nas lavras, internadas nos hospitais e ausentes das suas circunscrições.

A directora municipal da Acção Social no Cuchi disse que, além das 6.498 famílias que beneficiam do Kwenda, existem ainda mais de mil agregados familiares que vivem em situação de extrema pobreza e que necessitam deste apoio, sobretudo, que residem nas comunas do Cutato e Tchinguanja.

JA

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