Outubro 18, 2024

Pelo menos até agora, a UNITA e o projecto político de Abel Chivukuvuku são as forças que realmente importam para a grandeza da plataforma em que também faz parte do Bloco Democrático. Apesar desse facto, a legalização da formação do antigo delfim de Jonas Savimbi ao invés de alegrar as hostes do ‘galo negro’, parece ter gerado um sentimento de desconfiança, receio e medo.

O Tribunal Constitucional (TC), órgão judicial responsável pela administração da justiça em matéria de natureza jurídico-constitucional, legalizou o Partido do Renascimento Angolano – Servir Angola (PRA-JA), uma decisão que põe fim a um processo que se arrastava desde 2019.

A notícia da legalização da organização já ecoa o mundo, e já faz igualmente estragos nalguns círculos partidários.

Pelo menos até agora, a UNITA e o projecto político de Abel Chivukuvuku, que acaba de ser formalizado pelo TC, são, no momento, as forças que realmente importam para a grandeza da Frente Patriótica Unida (FPU), uma plataforma política por via da qual a UNITA atrelou o Bloco Democrático (BD) e o PRA-JA dentro da sua estrutura no quadro das eleições-gerais de 24 de Agosto de 2022.Com a FPU, a UNITA alcançou o seu maior resultado eleitoral de sempre, tendo conseguido eleger 90 deputados à Assembleia Nacional.

Até antes de 2022, o maior resultado eleitoral da UNITA havia sido conseguido em 1992, então sob direcção de Jonas Savimbi, o líder fundador da organização, e que conheceu a morte em 2002, na sequência da guerra fratricida.

Entretanto, para diferentes segmentos, e já foi notícia neste espaço, a adesão pouco complexa para a UNITA do projecto político de Abel Chivukuvuku nas suas fileiras, sob capa da FPU, resultou, em parte, do facto de a referida organização não ter sido legalizada, facto que não oferecia outra opção aos mentores do projecto, que se manifestavam ávidos por participar no pleito eleitoral passado, depois do ‘desenlace com a CASA-CE.

A falta do «SIM» do Tribunal Constitucional aos pedidos de legalização do PRA-JA Servir Angola, também beneficiara a UNITA, maior partido na oposição, que acabou por «arrastar» a referida organização para as suas fileiras.

Abel Chivukuvuku, um político ‘poderosíssimo’ que no que a disputa política diz respeito, aceitou atrelar o PRA-JA aos ‘maninhos’ sem levantar grandes questões, que pudessem «aquecer» o galinheiro.Além de o próprio Abel ter aceite sem grandes questionamentos como já referido, a concepção da FPU no modelo em que foi criado foi bastante contestada por altos dirigentes da UNITA que, no congresso de 2021, que reconduziu ACJ à liderança, depois da anulação pelo Tribunal Constitucional, do congresso de 2019, advertiram a ACJ que a FPU só teria «pernas para andar» caso não fosse transformada em Coligação Eleitoral, situação que obrigaria a UNITA a abdicar de sua marca e símbolos.

No seio do Bloco Democrático, outra organização atrelada ao ‘galo negro’, a anexação do partido à UNITA também não foi bem vista, embora os resultados eleitorais de 2022 tenham sido uma mais-valia para o partido e seus quadros que passaram a ocupar lugares no Parlamento por via da UNITA.

A exigência de alguns altos dirigentes do Bloco Democrático era de que ao invés de o partido concorrer ao pleito eleitoral de 24 de Agosto passado, atrelado à UNITA, fosse criada uma Coligação Eleitoral, algo impensável para os guardiões de «Muangai».Entretanto, o PRA-JA, de Chivukuvuku, embora não sendo legalizado, é mais poderoso, em termos numéricos e de capacidade de mobilização, em relação ao Bloco Democrático, mas a sua liderança optou por não forçar a criação de uma Coligação com a UNITA, tendo em conta a sua então condição de ilegalidade. Ou seja, o PRA-JA, face à capacidade mobilizadora de seu líder Abel Chivukuvuku, agora mais certificada com o abalo que sobreveio à Coligação CASA-CE, de onde foi apeado da direcção, em 2019, dificilmente aceitaria concorrer às eleições a coberto da marca e símbolos da UNITA, caso já tivesse sido legalizado.

Face ao exposto, vaticina-se um prenúncio do início do fim da FPU. Por exemplo, embora os generais Paulo Lukamba Gato e Kamalata Numa vêm demonstrando uma certa flexibilização tendo em conta o contexto político, não será nada fácil para estes importantes quadros, em conjunto com o seu líder Adalberto Costa Júnior, conseguirem convencer outros ‘barões’ da organização a chancelarem uma coligação em que a UNITA concorra às eleições sem os seus símbolos.

E, por outro lado, de acordo com fontes do Correio da Kianda, na semana passada, num encontro de quadros do PRA-JA, Abel Chivukuvuku manifestou-se confiante de que a sua organização seria legalizada, e apelou aos seus quadros a trabalharem afincadamente para organizarem e maximizarem o partido, visando estarem em posição de força nas futuras negociações eleitorais para a viabilização outra vez da FPU.O político, segundo as fontes, deixou implícita a ideia de que apenas uma negociação que espelha a realidade dos factos poderia renovar um novo compromisso político no âmbito da Frente.

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