2 de Junho, 2025

O assassinato de um ícone da música e da liberdade ainda levanta questões décadas depois. O seu corpo nunca foi oficialmente entregue à família.

Redacção

Era 27 de Maio de 1977 a música popular angolana perdeu uma de suas vozes mais combativas e amadas. David Zé, cantor, compositor e activista político, foi morto brutalmente na sequência dos trágicos acontecimentos de 27 de maio de 1977, episódio ainda envolto em mistério, dor e silêncios oficiais que o MPLA recusa falar.

Nascido em 1944, David Zé destacou-se por unir música e ideologia, transformando as suas canções em armas culturais contra o colonialismo português e em apoio ao recém-independente governo do MPLA.
Com uma linguagem acessível e combativa, temas como “Quem Matou Cabral?”, “Sofrimento” e “Undenge Uami” conquistaram corações e mentes de uma geração sedenta por justiça social.
Contudo, sua ligação à ala mais à esquerda do MPLA e sua proximidade com figuras como Nito Alves acabaram por selar o seu destino.
No dia 27 de Maio de 1977, após uma tentativa fracassada de golpe liderada por dissidentes dentro do próprio partido, David Zé foi detido e executado sem julgamento. Tinha apenas 33 anos.
O seu corpo nunca foi oficialmente entregue à família. O silêncio que se seguiu à sua morte prolongou-se por décadas, com o seu nome e legado sendo, por muito tempo, apagados da memória pública angolana.

Nos últimos anos, no entanto, iniciativas de resgate da história nacional vêm devolvendo a David Zé o lugar de destaque que merece. A sua música voltou às rádios, e estudiosos da cultura angolana apontam-no como uma das figuras mais importantes da resistência cultural pós-independência.

A morte de David Zé não foi apenas o fim de um artista; foi o silenciamento de uma geração que ousou sonhar em voz alta.

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