16 de Dezembro, 2025

O Presidente da República e da União Africana, João Lourenço, discursa hoje, em Joanesburgo, África do Sul, na 20.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo do G20, a primeira a ser realizada no continente africano.

Sob o lema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, a reunião decorre sob presidência rotativa da África do Sul do G20 e vai analisar alguns dos desafios mais urgentes da actual agenda global, com as mudanças climáticas, a reforma da arquitectura financeira internacional, a inovação tecnológica, a segurança alimentar e o financiamento ao desenvolvimento a dominarem os debates.

 

Em Joanesburgo, onde desembarcou ontem à noite, o Estadista angolano faz-se acompanhar da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço.

 

No aeroporto, João Lourenço foi recebido pela ministra da Defesa e Veteranos Militares da África do Sul, Angie Motshekga.

 

Em fim de missão, a presidência sul-africana tem ainda a missão de coordenar a agenda do Grupo das 20 maiores economias em consulta com os restantes membros, procurando assegurar respostas conjuntas para o desenvolvimento da economia mundial.

 

Na 19ª. Cimeira, realizada em 2024 no Rio de Janeiro, Brasil, os líderes das 20 maiores economias do mundo lançaram a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, reforçaram compromissos sobre transição energética e defenderam a reforma da governação económica internacional.

 

Na ocasião, o Presidente João Lourenço disse ser “urgente criar condições que favoreçam o desenvolvimento de uma agricultura sustentável a nível planetário para se garantir a segurança alimentar e alcançar-se a meta de fome zero”.

 

O Chefe de Estado chegou a enfatizar que “a fome é um flagelo que afecta fundamentalmente os países em vias de desenvolvimento”, mas no entanto não se trata de um “mal exclusivo destas geografias, pois observamos este fenómeno também em países desenvolvidos, industrializados e com um grande Produto Interno Bruto”.

 

A África do Sul assumiu a presidência do G20 a 1 de Dezembro de 2024, durante a XIX Cimeira do Grupo, e encerra o seu mandato este ano, passando o bastão aos Estados Unidos da América.

 

Ao longo da sua presidência, a África do Sul organizou mais de 130 reuniões do G20, algumas das quais em países como Egipto, Nigéria e Etiópia, promovendo a participação continental em questões cruciais como a transição energética justa, industrialização, segurança alimentar, governança da inteligência artificial, entre outros temas.

 

A África do Sul augura que o legado da sua presidência do G20 traga uma transformação económica tangível para o continente, assegurando que os seus recursos impulsionem o seu crescimento e desenvolvimento sustentável.

 

África está no centro do debate económico

O analista político Benjamin Gerard considera a realização desta Cimeira uma oportunidade histórica para o continente africano se reposicionar no centro do debate económico mundial, ao acolher pela primeira vez o maior fórum multilateral de decisões económicas globais.

 

Em declarações ao Jornal de Angola, o especialista lembrou que o G20 reúne “quem decide, quem produz, quem consome e quem financia a economia global”, representando 85 por cento do PIB mundial, 63 por cento da população e 75 por cento do comércio internacional.

 

Para Benjamin Gerard, este encontro pode deixar “um legado duradouro” para África, sobretudo nos domínios da cooperação financeira, justiça social e sustentabilidade climática, e contribuir para a aceleração da Agenda 2063 da União Africana.

 

Influência de África na agenda global

 

O analista salientou, igualmente, que a presidência sul-africana do G20 e o facto de a União Africana ser membro de pleno direito ampliam significativamente a capacidade do continente de influenciar a agenda global.

 

Entre os principais benefícios estratégicos, destacou o reforço dos temas africanos, como o endividamento, o financiamento climático e a industrialização; a potencial atracção de maior investimento estrangeiro; o reforço da influência diplomática africana no sistema multilateral; e o modelo inclusivo do “Summit Social”, que pode inspirar políticas participativas noutros países africanos.

 

No que toca a Angola, Benjamin Gerard afirmou que o país tem dado sinais claros de querer posicionar-se como motor de atracção de investimentos para África, através de vários fóruns internacionais que acolheu recentemente.

 

O analista considera a actual aposta do Executivo na promoção do Corredor do Lobito coerente com este objectivo, ao sublinhar que a infra-estrutura é vital para a integração regional, tanto na SADC como na Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) para a dinâmica económica da Zona de Livre Comércio Continental Africana.

 

Benjamin Gerard reforçou que a Cimeira representa também uma oportunidade para reforçar a influência regional e internacional de Angola, país reconhecido como actor responsável e comprometido com a pacificação do continente.

O facto de Angola presidir actualmente à União Africana aumenta, também, a sua capacidade de negociação e a projecção da sua agenda estratégica.

 

Sobre a participação do Presidente João Lourenço, enquanto Chefe de Estado angolano e Presidente em funções da União Africana, Benjamin Gerard afirmou que esta acumulação de funções representa uma vantagem diplomática, permitindo potencializar a posição do país no debate multilateral e maximizar os resultados que Angola poderá alcançar no encontro das maiores economias do mundo.

 

Mais de 42 países presentes no certame

De acordo com o ministro sul-africano das Relações Internacionais, que falava à imprensa local, 42 países e organizações, incluindo a grande maioria dos Estados-membros do G20, vão participar do encontro de alto nível a ter lugar no Johannesburg Expo Centre (JEC), o maior centro de exposições, conferências, convenções e eventos da África do Sul.

 

A participação de tantos líderes reforça a legitimidade global deste encontro e aumenta as expectativas de decisões importantes, especialmente para o continente africano.

 

A Cimeira do G20 reúne anualmente os líderes das 19 maiores economias do mundo, juntamente com a União Europeia e a União Africana, para discutir políticas económicas globais e estratégias de desenvolvimento internacional. Criado em 1999, o Fórum tornou-se o principal espaço de coordenação económica mundial, abordando temas como crescimento económico, estabilidade financeira, desenvolvimento sustentável e respostas comuns a crises globais.

 

Integram o G20 países como Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e África do Sul, além da União Europeia e da União Africana. A Espanha participa como convidada permanente.

JA

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