A cidade de Luanda acolheu esta terça-feira, 02, a cerimónia de encerramento do programa de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN), durante o qual, a embaixadora da União Europeia em Angola, Rosário Bento Paz, afirmou que “o sector da água continua a ser o mais crítico” no país.
De iniciativa do Governo angolano com financiamento da União Europeia, o FRESAN foi concebido para reforçar a resiliência das comunidades mais vulneráveis e melhorar a segurança alimentar e nutricional no Sul de Angola, nomeadamente nas províncias do Cunene, Huíla e do Namibe, de 2018 a 2025, por terem sido as que mais sofreram as consequências directas das alterações climáticas.
No total, a União Europeia investiu em doação para o projecto mais de 65 milhões de Euros, para acudir a situação da seca nesta região do país, “para que soluções reais chegassem às províncias da Huíla, Namibe e Cunene”.
De acordo com Rosário Bento Paz, as referidas regiões “carregam há décadas o peso das secas recorrentes e das alterações climáticas”, razões pelas quais foi necessária a intervenção financeira da União Europeia.
Apesar das melhorias, que segundo a diplomata traduzem mudanças estruturantes e que servem de orientação de políticas públicas para melhorar a vida das comunidades rurais, ainda existem desafios.
“Permitam destacar que o sector da água continua a ser um dos mais críticos. Os investimentos nacionais em curso no âmbito do programa de combate aos efeitos da seca – desde sistemas de armazenamento e distribuição da água à construção de barragens e de estradas rurais – são absolutamente cruciais para a transformação estrutural do sul do país”, afirmou.
Estes investimentos, continuou, validam as intervenções técnicas testadas pelo FRESAN e demonstram que com maior disponibilidade de água, como já acontece no canal do Cafu, surgem novas oportunidades para a produção agrícola e o maneio da pecuária, permitindo sistemas produtivos mais eficientes e mais emprego local.
Considerou ainda importante o contributo do FRESAN para a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e garantiu que plano de acção orientará intervenções multissectoriais e dará maior coerência ao trabalho das instituições de investigação, responsáveis pela identificação de tecnologias agrícolas adequadas e pela avaliação da qualidade nutricional dos alimentos locais, elementos fundamentais para combater a desnutrição crónica infantil.
Entre os marcos estratégicos alcançados durante os oito anos de implementação do projecto destacou o facto de as mulheres serem a maioria (54%) dos mais de sete mil agricultores que beneficiaram de formação através das escolas de campo, onde aprenderam técnicas agrícolas adaptadas às alterações climáticas.
“Mais de 88 mil mulheres em idade reprodutiva beneficiaram de acções de sensibilização e nutrição, superando amplamente as metas definidas. O acesso a fontes de água melhoradas aumentou em mais de 40% nas áreas de intervenção e 23 administrações municipais passaram a integrar políticas de mitigação às alterações climáticas e insegurança alimentar”, acrescentou.
Rosário Bento Paz sublinhou o Centro de Coordenação Operacional de Proteção Civil, modernizado e equipado com sistemas de informação geográfica, monitorização de riscos e comunicação de emergência, inaugurado na província do Namibe.
“Estes indicadores traduzem-se em vidas transformadas, famílias com mais meios de produção, criação de emprego jovem e, sobretudo, mulheres, como eu referi, comunidades mais protegidas, crianças mais saudáveis e regiões mais preparadas para enfrentar choques climáticos cada vez mais severos. Estes resultados reforçam a importância de integrar as lições aprendidas no planeamento público, no Orçamento Geral do Estado e nas estratégias de longo prazo”, sublinhou.
Defendeu também a necessidade da continuidade de políticas públicas viradas para este sector, como um factor determinante para o futuro da segurança alimentar no Sul de Angola, bem como da estabilidade institucional e da prioridade que o país atribuirá a este sector.
“As províncias do Sul continuam a enfrentar secas prolongadas, solos degradados, instabilidade de mercados e dificuldades de acesso à água. Todos estes factores continuam a exigir acção colectiva, estratégica e sustentada”, disse, apelando por isso, à continuidade e ao comprometimento das autoridades.
Ck

