Janeiro 9, 2025

Analistas políticos angolanos exortaram esta Quarta-feira as elites políticas do país a reflectirem sobre os “preocupantes” protestos pós-eleitorais em Moçambique, defendendo diálogo, acordos entrepartidários e uma comissão eleitoral paritária para acautelar desconfianças e tensões.

Redacção

De acordo com o politólogo angolano David Sambongo, as manifestações em Moçambique contra os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro trazem várias lições não só para os cidadãos, mas também para os partidos na oposição e Governo.
“São lições que podemos tirar também para o lado da oposição. Para o nosso país, era importante que a elite política angolana no poder e na oposição fizesse uma reflexão profunda em relação ao que está a acontecer em Moçambique”, afirmou esta Quarta-feira o politólogo em entrevista à Lusa.
O analista entende que se, de um lado, “há muita juventude eufórica, que está desesperada para que mudar o ‘status quo'”, as manifestações convocadas pelo presidente venâncio Mondlane estão também “a ceifar vidas” e “a pôr em causa o diálogo”.
“Há pessoas que estão a ser mortas nesta luta, pessoas que estão a ser sacrificadas”, frisou, recordando que Angola já viveu 27 anos de conflito civil e era fundamental que a elite política angolana – à luz da actual realidade de Moçambique – procurasse dialogar.
Um diálogo que, para David Sambongo, congregasse todas as forças políticas do país, visando um “acordo intrapartidário, no sentido de se negociar uma eventualidade de alternância no poder”.
“A política também é um espaço de harmonização de interesses, e se não se começar já a trabalhar para que essas elites políticas encabeçam todo o processo político no nosso país, as suspeições eleitorais vão continuar a existir”, referiu.
Sambongo recordou as recentes disputas no parlamento entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) sobre a nova composição da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) como um sinal de diálogo.
“Estamos a ver a luta que está a ser feita através dos comissários eleitorais. As elites políticas não podem, exactamente, ser as responsáveis por todo o processo que está em curso, se não haverá sempre essas divisões, será automática”, concluiu.
Considerou também que a “veia revolucionária e jovial” de Eduardo Mondlane está a desafiar completamente as estruturas e o sistema político moçambicano, uma atitude, argumentou, que leva a juventude angolana a compará-la à postura de Adalberto Costa Júnior (presidente da UNITA), “que não teve a mesma coragem de defender a verdade eleitoral em 2022”.
“Se a UNITA não se acautelar, se não procurar cada vez mais ter mais ousadia do ponto de vista da defesa da verdade eleitoral poderá ser ultrapassada por uma força que poderá estar em frente”, apontou David Sambongo.
O analista político Agostinho Sicato disse, por seu lado, que a situação em Moçambique “é preocupante” e que os angolanos estão a acompanhar com apreensão e ansiedade, interrogando-se se a Frelimo poderá ceder ou encontrar alguma “artimanha jurídica ou política” para se manter no poder.
Referiu que as manifestações nacionais em Moçambique são lições, “também para Angola, e uma preparação psicológica dos líderes na oposição e os cidadãos”.
“Passa uma mensagem de que afinal é possível partir-se para uma reivindicação pacífica, ordens no âmbito das recomendações da Constituição e das leis”, adicionou Agostinho Sicato, adiantando que a situação em Angola seria “mais duradoura”, se fosse feita uma releitura do contexto em Moçambique.
As manifestações, maioritariamente violentas, devem deixar um rasto de destruição para Moçambique, como também, no entender de alguns analistas, irrefutáveis estruturas de cidadãos e objetivos democráticos satisfeitos.

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