Julho 25, 2024

França decidiu pôr fim à cooperação militar com o Níger, governado por uma junta militar desde o golpe de Estado de Julho passado, declarou domingo, em Paris, o Presidente francês, Emmanuel Macron.

Numa entrevista concedida às emissoras TF1 e France 2, Macron anunciou a retirada, até ao final do ano, do contingente militar francês no Níger, bem como o regresso a Paris, nas “próximas horas”, do embaixador francês em Niamey.

Cerca de 1.500 militares franceses estão estacionados no Níger, no quadro de uma operação para combater grupos jihadistas na região do Sahel.

O Níger é terceiro país do Sahel a exigir o fim da cooperação militar com França, depois dos vizinhos Mali e Burkina Faso, todos eles governados actualmente por militares na sequência de golpes de Estado.

Na sua entrevista, Macron prometeu, contudo, que França estará “sempre disponível” para apoiar África na luta contra o terrorismo jihadista, desde que a pedido de governos democraticamente eleitos ou de organizações regionais.

“Acabou a Françafrique (conceito geopolítico que descreve a influência exercida por Paris sobre suas ex-colónias africanas). Quando há golpes de Estado, não intervimos”, afirmou.

Revés para operação francesa em África

Segundo analistas, o anúncio sobre o Níger representa um revés da política de França para África, após militares franceses já terem sido forçados a deixar o Mali e o Burkina Faso, nos últimos anos, pelos poderes saídos dos golpes de Estado.

França enviou militares à região do Sahel para combater grupos jihadistas, a pedido de líderes africanos. Desde 2013, quase cinco mil militares franceses foram enviados com essa missão no Mali, no Burkina Faso, no Tchad, no Níger e na Mauritânia.

Em Agosto de 2022, mais de nove anos depois de serem recebidos no Mali como “salvadores”, os 2.400 soldados franceses concluíram a sua retirada do país, ordenada por Macron devido à deterioração das relações com a junta militar no poder em Bamako e perante a crescente hostilidade da opinião pública local em relação à França.

Dois meses depois, foi a vez de os cerca de 400 militares franceses no Burkina Faso deixarem o país. Desde 2022, o Níger vinha abrigando boa parte dos militares restantes dessa operação.

A saída dos soldados franceses em alguns casos costuma ser seguida de uma aproximação com o Grupo Wagner, como no caso do Mali, onde a junta militar no poder em Bamako fez um acordo com os mercenários para apoiar o seu Exército.

“Estivemos lá porque o Níger pediu-nos, tal como Burkina Faso e Mali, para os ajudarmos a combater o terrorismo nos seus territórios. Hoje, esses países foram vítimas de golpes de Estado. Ainda hoje falei com o Presidente Bazoum, que agora está detido porque realizava reformas ambiciosas”, disse Macron.

O contingente francês no Níger, país onde França também tem interesses económicos no urânio, está distribuído entre a capital Niamey, Ouallam, ao norte, e Ayorou, perto da fronteira com o Mali.

Macron afirmou que a retirada dos militares será feita de forma gradual e em coordenação com a junta militar que actualmente governa o Níger.

Sentimentos anti-franceses

O Níger foi uma colónia francesa desde o início do século 20 até 1960, quando se tornou independente. Hoje é um dos principais fornecedores de urânio para as fábricas nucleares francesas, com cerca de um terço do total num país onde 70% da electricidade é gerada por reactores atómicos.

Para muitos africanos, o passado colonial pesa contra França. E a isso se une, no período pós-colonial, o frequente apoio do Eliseu a autocratas africanos.

Além disso, muitas pessoas em África percebem o Presidente Emmanuel Macron como arrogante, o que certamente não melhora a imagem de França.

Alguns observadores entendem, todavia, que, apesar da percepção de arrogância que o acompanha, poucos líderes franceses empreenderam tantos esforços para melhorar a imagem de França em África como Macron.

A título de exemplo, cita-se o facto de que, num gesto pouco comum para líderes franceses, ele viajou até ao Rwanda para reconhecer que França teve grande responsabilidade no genocídio de 1994, que deixou cerca de 800 mil mortos.

Acresce-se a isso que Macron elevou a ajuda financeira ao continente africano, começou a devolver obras de arte roubadas na época colonial e deu apoio militar para combater militantes jihadistas que já mataram inúmeros civis em África. 

 

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