Outubro 7, 2024

Bruxelas – O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, condenou segunda-feira a violência chocante no norte do Kosovo, após confrontos entre manifestantes sérvios e forças da missão KFOR da OTAN, que resultaram em dezenas de feridos, anunciou a Reuters.

“A UE insta as autoridades do Kosovo e os manifestantes a desescalar imediata e incondicionalmente a situação. Esperamos que as partes actuem com responsabilidade e encontrem uma solução política através do diálogo imediatamente”, frisou o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, através da rede social Twitter.

Numa nota de condenação à violência chocante, Borrell frisou que “os actos violentos cometidos contra a KFOR, jornalistas, civis e polícias são absolutamente inaceitáveis”.

Cerca de trinta membros da força internacional liderada pela OTAN no Kosovo ficaram feridos na segunda-feira em confrontos com manifestantes sérvios, minoria no Kosovo mas grupo maioritário no norte do país, que se manifestavam em frente à Câmara Municipal da localidade de Zvecan para exigir a demissão do novo presidente da autarquia, pertencente à maioria albanesa.

Os sérvios do norte do Kosovo não reconhecem a autoridades dos novos presidentes das câmaras, eleitos em Abril num escrutínio em que a participação foi de apenas 3%, devido ao boicote da população sérvia, que é uma minoria no país, mas constitui uma larga maioria em quatro municípios do norte Kosovo.

Os sérvios renunciaram em massa em Novembro às instituições locais da região e Pristina decidiu organizar eleições municipais na tentativa de acabar com o vazio institucional.

Incidentes já haviam ocorrido sexta-feira quando autarcas albaneses kosovares tomaram posse acompanhados por polícias.

Os manifestantes sérvios que se reuniram em particular em frente à autarquia de Zvecan, exigiram segunda-feira a retirada dos vereadores albaneses, mas também das forças policiais do Kosovo, contra as quais se depararam.

Soldados da KFOR, armados com escudos e bastões, inicialmente tentaram separar os dois lados antes de começar a dispersar a multidão, informou um jornalista da agência France-Presse (AFP).

Os manifestantes responderam e atiraram pedras e bombas incendiárias improvisadas (“cocktail molotov”) contra os soldados, antes de serem empurrados para fora daquela zona.

Segundo o Ministério da Defesa húngaro, mais de 20 soldados húngaros estão entre os feridos, sete dos quais sofreram ferimentos graves.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Antonio Tajani, informou no Twitter que 11 soldados italianos ficaram feridos.

Estes militares foram alvo de ataques não provocados e sofreram lesões traumáticas com fracturas ósseas e queimaduras decorrentes da explosão de engenhos incendiários, referiu a KFOR em comunicado, referindo-se a “pelo menos 25 militares”.

Pelo menos 52 sérvios ficaram feridos nestes incidentes, três destes gravemente, adiantou o Presidente sérvio Aleksandar Vucic em Belgrado, acrescentando que um homem de 50 anos foi baleado e ferido por “forças especiais” da polícia kosovar.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, sublinhou que “os sérvios lutam pelos seus direitos no norte de Kosovo” e que “ameaça ocorrer uma grande explosão no coração da Europa, onde a OTAN levou a cabo uma agressão contra a Jugoslávia em 1999”.

Disse Lavrov numa referência à intervenção da Aliança Atlântica contra Belgrado que terminou com a guerra entre forças sérvias e combatentes da independência albaneses kosovares.

Aleksandar Vucic, que sexta-feira ordenou que o exército sérvio ficasse em alerta máximo, como tem acontecido regularmente nos últimos anos, destacou ainda que as unidades destacadas junto da fronteira com o Kosovo foram posicionadas em posições “essenciais”.

Em Roland Garros, o astro do ténis sérvio Novak Djokovic, cujo pai nasceu em Kosovo, abordou a situação no final da sua estreia no torneio contra o norte-americano Aleksandar Kovacevic: “Kosovo é o coração da Sérvia “. Pare a violência”, escreveu nas lentes de uma câmara, após a vitória.

A Sérvia nunca reconheceu a independência proclamada em 2008 pela sua antiga província e as tensões surgem regularmente entre Belgrado e Pristina. Cerca de 120.000 sérvios vivem em Kosovo, cerca de um terço destes no norte do território.

Os dois países estão a negociar a normalização das suas relações com base num novo plano da UE, apoiado pelos Estados Unidos, num processo frequentemente interrompido pela ocorrência de confrontos.

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