A União Africana (UA) defendeu, ontem, que o genocídio no Rwanda que se assinala hoje (29º aniversário) deve ser recordado como uma “responsabilidade colectiva” da comunidade internacional na prevenção de massacres semelhantes.
“Esta comemoração anual é uma ocasião importante para prestar homenagens individuais e colectivas às vítimas e recordar aos povos africanos e à comunidade internacional o valor da vida e da humanidade”, escreveu a vice-presidente da Comissão da UA, Monique Nsanzabaganwa, na conta da organização no Twitter. “É um momento para um compromisso com a responsabilidade colectiva de prevenir e combater a ideologia do genocídio e a sua negação”, acrescentou.
O Presidente do Rwanda, Paul Kagame, deverá dirigir hoje uma cerimónia em Kigali para assinalar o início do massacre de 1994. O evento terá lugar no Memorial do Genocídio, na capital rwandesa, onde estão enterradas mais de 250 mil pessoas mortas durante os massacres.
Além disso, até 15 de Julho várias eventos comemorativos conhecidos como Kwibuka (“Recordar”, em Kiñarwanda) serão realizados em todo o país.
As razões que desencadearam o genocídio remontam ao final do século XIX, quando os governos coloniais alemão e mais tarde belga separaram a população do Rwanda em dois grupos fechados: Os tutsis, que representavam 14%, e a maioria, hutu. As tensões entre estes dois grupos, que em momentos diferentes da sua história tiveram mais ou menos privilégios graças à marginalização ou exploração do outro, levaram a uma guerra civil nos anos 90 entre o governo pró-Hutu Rwandês e os rebeldes da Frente Patriótica Rwandesa (RPF), liderada por Kagame.
Na noite de 06 de Abril de 1994, a queda do avião que transportava os então Presidentes do Rwanda, Juvénal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos hutus, matou os dois líderes e desencadeou um genocídio contra os tutsis. Pelo menos 800 mil pessoas morreram no massacre, que durou cerca de 100 dias.
Presidente Paul Kagame fala da sucessão
Entretanto, Presidente rwandês, Paul Kagame, anunciou, ontem, que está actualmente em discussão um plano de sucessão activo dentro do partido no poder. Esta declaração foi feita durante uma conferência de imprensa conjunta com o seu colega queniano, William Ruto, em Kigali, na qual se referiu à sua aposentadoria como uma “inevitabilidade”. Segundo a Efe, Kagame disse que não estava necessariamente interessado em escolher o seu sucessor, mas sim em criar um ambiente que desse origem a pessoas que possam liderar.
“Temos tido essa discussão dentro do nosso partido desde 2010, mas as circunstâncias, os desafios e a história do Rwanda tendem a ditar certas coisas”, disse.
Paul Kagame afirmou que a sua saída era uma questão que tem que ser discutida “mais cedo ou mais tarde”, acrescentando a sua certeza de “ingressar no jornalismo na velhice”. Estou ansioso por isso”, disse.
Esta declaração surge dias depois do partido governamental, a Frente Patriótica Rwandesa (RPF-Inkotanyi) ter eleito, pela primeira vez, uma mulher como vice-presidente.
Esta não foi a primeira vez que Kagame falou sobre a aposentadoria. Em Dezembro de 2022, o Presidente rwandês disse que não tinha problemas em se tornar um idoso comum. Em 2015, um controverso referendo removeu um limite constitucional de dois mandatos para Presidentes. Kagame, que está no poder desde 2000, conseguiu concorrer a um terceiro mandato e vencer a eleição.