Dezembro 2, 2024

Algumas dezenas de fiéis e pastores da IURD Angola protestaram na sexta 22, em Luanda, contra o despacho governamental que atribui nova denominação à instituição religiosa, considerando que a decisão foi “viciada” em favor da ala brasileira.

À entrada das instalações onde funciona o Ministério da Cultura e Turismo de Angola, no município do Talatona, sul de Luanda, os manifestantes, empunhando cartazes, gritavam em coro “Angola é dos angolanos não é de Edir Macedo” (fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)).

“Chega de Corrupção”, “Não a vasectomia”, “A bandeira do Presidente da República é contra a corrupção”, “Reforma é irreversível” lia-se nos cartazes exibidos no protesto por jovens, mulheres, obreiros e pastores da IURD.

À entrada do denominado edifício “Os Clássicos de Talatona”, situado na rua onde funcionam vários Ministérios, nomeadamente o da Cultura e Turismo, pediram a exoneração do ministro do setor, gritando em uníssono “Filipe Zau, Fora”.

Após entoarem o Hino Nacional de Angola, ali permaneceram, sob o olhar de alguns efetivos da polícia nacional, manifestando-se contra o decreto do Ministério da Cultura e Turismo que reconhece a nova denominação da IURD Angola, agora Igreja do Reino de Deus em Angola (IRDA), e determina a transferência de todo o património para a IRDA.

Estes fiéis, afetos à ala dos dissidentes da IURD Angola, a conhecida ala angolana dirigida pelo bispo Bizerra Luís, consideraram que o documento assinado pelo ministro Filipe Zau beneficia a denominada ala brasileira dirigida pelo bispo Alberto Segunda.

“Nós estamos aqui a protestar contra uma decisão, um decreto do ministro da Cultura que ao nosso entender viola gravemente a lei (…). Angola é um Estado laico onde há separação entre o Estado e a igreja”, disse à Lusa Josualdo Jacinto.

Para este fiel da IURD Angola, o decreto assinado pelo ministro da Cultura e Turismo de Angola “interfere diretamente na vida interna da igreja”.

“Nós, o ano passado, elegemos um novo líder que é o bispo Bezerra Luis”, salientou.

Entre as mulheres do coral da IURD, trajadas de uniforme, que se juntaram ao protesto, estava Aida Gaspar, que se manifestou descontente com a atual situação, pedindo para se “repor a legalidade”.

“Como angolanos queremos que repõem a legalidade, então estamos cansados com este caso IURD, porque muitas famílias foram desestruturadas, muitos casamentos destruídos devido à esta situação”, afirmou.

Wilson Nianga, fiel da IURD há 24 anos, também se juntou à marcha de protesto por considerar que o decreto que cria a IRDA “viola gravemente os estatutos da IURD”.

O pastor Francisco Ernesto, que contesta a liderança da ala brasileira, disse que a ala angolana é reformista e que sempre trabalhou em prol da união entre os irmãos angolanos.

“Nós sempre trabalhámos para que houvesse uma conciliação, uma união. Alguns meses atrás houve um acordo, mas realizaram uma assembleia totalmente ilegal, (…) houve claramente violações”, afirmou.

As alterações saídas da reunião extraordinária do conselho de direção da IURD Angolana, realizada em 08 de fevereiro último, foram confirmadas no decreto de março do Ministério da Cultura e Turismo, consultado hoje pela Lusa.

O documento reconhece as alterações relativas à nova denominação, logótipos, símbolos, estatutos e regulamentos internos.

Em novembro de 2019, dissidentes da IURD em Angola acusaram a direção brasileira de crimes financeiros, racismo, discriminação e abuso de autoridade, entre outros, e constituíram uma ala reformista, que foi reconhecida pelo Governo angolano como legítima representante do movimento religioso brasileiro.

Na sequência, foram constituídos arguidos quatro membros da liderança da IURD, que foram absolvidos em março de 2022, da maioria das acusações, exceto o ex-responsável Honorilton Gonçalves, condenado a três anos de prisão, pena suspensa, pelo crime de violência física e psicológica.

O conflito deu origem a alas – a de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda, e a ala dissidente, angolana, dirigida por Bizerra Luís – que reclamavam ser as legítimas representantes da igreja fundada por Edir Macedo.

A24H

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