Julho 27, 2024

Chinese President Xi Jinping leads the way for Angola's President Joao Lourenco during a welcome ceremony outside the Great Hall of the People in Beijing on October 9, 2018. - Lourenco is on a state visit to China. (Photo by GREG BAKER / AFP)

Presidente angolano e o líder chinês não estão de costas viradas, mas vivenciam um esfriamento nas relações muito por conta da nova agenda política internacional por parte de Luanda, que freia os passos de Beijing e alarga os dos EUA e União Europeia. Entretanto, o facto pode agora pesar para Angola que precisa de pagar, já neste mês, mais uma tranche da dívida à China, que é o seu maior credor a nível mundial.

O presidente João Lourenço viaja a China já na segunda quinzena deste mês. Sublinha-se que entre as razões da deslocação do Chefe de Estado angolano, que deve se encontrar com o seu homólogo Xi Jinping, estão o estreitamente nas relações, abordagem das parcerias e renegociação do modelo de pagamento da dívida.

No momento, Angola paga os empréstimos chineses através de envio de petróleo. Por exemplo, de 2019 até 2023, segundo um relatório publicado no site do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social da África Austral (CEDESA), o país reembolsou cerca de 4 mil milhões de dólares, reduzindo a dívida para 18,4 mil milhões.

Entretanto, o presidente angolano já não quer continuar a pagar o empréstimo com remessas de petróleo. No seu Plano de Endividamento 2024-2026, o Governo angolano manifesta o desejo de não voltar a obter empréstimos que tenham como colateral as commodities (matéria prima como o petróleo e outros) assim como ocorre com a China, e pretende passar a subscrever apenas financiamentos “externos com prazo de reembolso mínimo de 15 e 20 anos”.

Nessa aguardada visita a China, o presidente João Lourenço terá de ter coragem para apresentar essa nova visão do seu Governo a Xi Jinping, e será mesmo necessário ter coragem, tendo em conta que o encontro ocorre numa altura em que os dois Chefes de Estados e respectivos países estão, em termos de relações, distantes um do outro, em parte por conta da nova postura internacional adoptada pelo Governo angolano, bem como pela má percepção do gigante asiático, que vem dando a impressão de que se esquecera que o parceiro africano é um Estado soberano e livre de fazer escolhas.

Importa reconhecer que depois de mais de duas décadas de guerra, Beijing foi a única capital poderosa que aceitou emprestar dinheiro a Luanda, que se via a braços com fortes problemas de infra-estrutura, água e energia eléctrica.

Nos últimos 22 anos, de 2002 até ao momento, a China emprestou a Angola pouco mais de 45 mil milhões de dólares.

Desde o início dos empréstimos, até ao último ano em que José Eduardo dos Santos geriu o país, as empresas chinesas eram as privilegiadas para as empreitadas mais relevantes, mas a aproximação de Luanda a Washington, operada por João Lourenço, substituto de José Eduardo dos Santos, inverteu o quadro.

A China, que ambicionava ter o controlo do Corredor do Lobito, uma via-férrea que liga Angola à República Democrática do Congo e a Zâmbia, foi destronado pelos norte-americanos.

Enquanto a China vê várias empreitadas escaparem-no entre os dedos, além de diminuir os seus empréstimos, os EUA aumentam presença sobretudo nos sectores da energia, telecomunicações, defesa e segurança.

O governo de Xi Jinping, não muito dado a reacções públicas, manifestou sutilmente o seu desagrado para com o tratamento angolano com o não envio de um embaixador para Angola, depois o término do mandato de Gong Tao. Ou seja, apenas agora, seis meses depois do regresso de Tao ao seu país, Beijing nomeou um novo embaixador, tendo o anuncio ter sido feito na mesma semana em que foi tornada pública a viagem de João Lourenço à capital chinesa.

Entretanto, é neste clima de tensão e desconfiança que João Lourenço há de apertar a mão de Xi Jinping, e procurar, ao mais alto nível, renegociar o modelo de pagamento da dívida que já faz mossa às finanças públicas.

CK

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